— Esse projeto foi amplamente discutido na Casa e teve a iniciativa da população, das profissionais e também das mães, que têm necessidade de ter um acompanhamento. Mais de 20 municípios do Estado do Rio Grande do Sul já tem essa lei, então há um movimento tanto nos estados do Brasil de propor esse projeto para que seja também de natureza federal para dar mais garantia às mulheres.
Marina é mãe e relembra do nascimento da pequena Maria Vitória, que hoje está com 9 meses, fala da importância das profissionais, principalmente, no acompanhamento durante esse momento tão delicado:
— Infelizmente eu não consegui ter o parto normal, mas eu fiquei horas em acompanhamento com a doula e foi um momento muito importante, onde ela me deu muito apoio, teve muito cuidado comigo e tenho certeza que o meu parto foi muito mais tranquilo com o acompanhamento dessa profissional — conta.
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Mulher que apoia outra mulher
Com origem grega, a palavra significa “mulher que serve a outra mulher”, garantindo apoio psicológico, informacional, conforto e suporte emocional durante a gravidez, parto e também no período pós-parto. Elas são contratadas pela própria gestante, tanto na rede pública quanto privada. Ao longo dos anos, as doulas foram ganhando espaço e relevância no cenário do parto e estão qualificadas na Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), com o código 3221–35. Diferente da parteira, a doula não realiza exame ginecológico, não pode ser a única a acompanhar um parto domiciliar e também fica fora de qualquer decisão técnica feita por parte da equipe médica.
Mariana Souque Soares, de 25 anos, trabalha como doula há 2 anos e conta que a aprovação do projeto significa o início para a realização de um sonho. De acordo com a estudante de psicologia, a medida serve também para proteger as doulas quanto aos estabelecimentos e determinar aquilo que é atribuição da profissional a partir do método de credenciamento, promovendo um maior controle de quem entra nos hospitais. Mariana também é mãe do pequeno Viccenzo, de 2 anos e 10 meses, que veio ao mundo através de uma cesária. A vontade de estudar sobre o assunto e buscar a formação como doula veio depois disso, onde ela percebeu a importância do apoio e cuidado que a gestante precisa durante esse processo. Para ela, o projeto aumenta também o protagonismo das mulheres de Santa Maria, que poderão ter a autonomia de escolher uma profissional qualificada para auxiliar no parto.
— Acredito que todas as mulheres merecem viver seus processos de gestação, parto e maternidade com respeito, cuidado, protagonismo e, acima de tudo, amor. Esses processos são extremamente valiosos na vida de uma mulher e não devem ser tratados como corriqueiros. Sonho e luto todos os dias para que a informação chegue a mais e mais mulheres, para que não fiquem a mercê de um sistema que tem como foco principal o capitalismo e o imediatismo e, nesse mundo, o parto não cabe, pois ele funciona de acordo com a natureza. Mulheres que buscam por informação significa que elas terão poder de escolha e isso me é extremamente válido — reforça.
Nas redes sociais, Mariana compartilha a rotina e explica sobre as atribuições da profissão:
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A Classificação Brasileira de Ocupações (CBO) determina que para ser doula é necessário ser maior de 18 anos, ter segundo grau completo e fazer um curso de formação com duração mínima de 80 horas com prática supervisionada. Isadora Forgiarini Balem é mestre em Direito, professora universitária e advogada, especialista em Direito de Família e pós-graduanda em Advocacia Feminista, com atuação exclusiva na defesa dos direitos das mulheres. Ela conta que lida com casos de ações que envolvem danos morais e materiais pela violência obstétrica, movidas por mulheres que foram ofendidas durante o parto, impedidas de levar acompanhante ou tiveram a utilização de procedimentos médicos que não são mais recomendados pela OMS durante o parto.
As consequências são físicas e também psicológicas, pois causam um trauma muito grande na vida da mulher. Para ela, a presença das doulas durante o parto colaboram para a segurança da gestante:
— As doulas estão ali como um apoio e reforço ao respeito da vontade daquela mulher, para que ela seja humanizada, respeitada nas suas vontades. Também para que seja possível atender os pedidos dela em relação a analgesia (remédios usados com o objetivo de aliviar ou minimizar a dor) ou de posições que sejam mais confortáveis, e isso, consequentemente, diminui a chance de violência obstétrica.